Amor à arte e aos momentos belos da vida

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quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Dois mestres

Amanhã não vou te procurar e vc vai me achar melhor do que eu sou. Eu sei que vc sente falta soube que as vezes até chora por mim, por isso é que eu tenho aparecido pouco. Eu sei que fica mais fácil vc gostar de mim quando eu não estou, imaginar um sujeito ideal meio normal, meio louco.

Tchau vai ver se eu tô lá na esquina, devo estar. Já deu minha hora e eu não posso ficar. A lua me chama, eu tenho que ir pra rua.

Meu coração numa garrafa de vidro.


Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma, eu sei, a vida não para. Será que é tempo que lhe falta para perceber, será que temos esse tempo para perder? E quem quer saber, a vida é tão rara.
Gruda não sai do meu lado. Mesmo que não seja de corpo presente. Que esteja distante, mas seja grudada em mim.

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Altman, o último dos pioneiros

"O amor pelo cinema é uma porta para o mundo e a condição humana"

Robert Altman está morto. Aos 81 anos, encerrou-se terça-feira a carreira de um dos raros gigantes do cinema americano após o fim da era dos estúdios, no começo dos anos 1950. "Independente" é um selo que se tornou paradoxalmente mercadológico a partir da explosão Sundance da década de 1990. Se algum diretor de cinema dos EUA mereceu o título, mais até que John Cassavetes, e tanto quanto Orson Welles, esse foi Altman.

"Nunca tive de dirigir um filme que não escolhesse ou desenvolvesse. O amor pelo cinema é uma porta para o mundo e a condição humana", afirmou Altman ao receber em março um Oscar honorário. Foi uma "mea culpa" tardia mas merecida da Academia. Altman é o diretor com maior número de indicações (cinco) sem ter vencido um Oscar, ao lado de Alfred Hitchcock, Martin Scorsese, Clarence Brown e King Vidor. A turma dá uma justa idéia de sua importância para o desenvolvimento do cinema, americano ou qualquer outro.

Robert Bernard Altman estreou como diretor rodando documentários de curta-metragem e episódios de telesséries, sobretudo policiais. Colaborou, entre outras, com "Alfred Hitchcock Apresenta" e "Bonanza". Seu longa-metragem de estréia, "Os Delinqüentes", um retrato da juventude transviada dos anos 50, completa meio século no próximo ano.

A década de 1970 foi seu período áureo. Altman a iniciou, trabalhando sempre à margem da grande máquina hollywoodiana, com "M.A.S.H." (1970), uma irresistível e demolidora sátira antimilitarista, passada num hospital na Coréia mas sintonizada com a então corrente guerra no Vietnã. O filme nasceu clássico e originou uma divertida série de TV, considerada por ele meramente mercantilista.

Pouco depois, Altman renovava o faroeste, um gênero já fora de moda, com "Quando os Homens São Homens" (McCabe and Mrs. Miller, 1971). Apesar da independência, manteve a média extraordinária de um (bom) filme por ano até atingir o apogeu. Seu titulo é "Nashville" (1975).

É talvez impossível descrever o impacto instantâneo do filme para gerações posteriores de cinéfilos. Passado na capital da música country que lhe empresta o nome, "Nashville" é um mosaico arrebatador dos Estados Unidos no bicentenário de sua independência, quando celebrações épicas mal ocultavam a ressaca nacional após o fracasso no Vietnã e a renúncia à Presidência de Richard Nixon, no ano anterior, a partir do escândalo de Watergate.

A estrutura polifônica de personagens que se alternam e indiretamente dialogam até o dramático encontro final criou imediatamente o neologismo de "um filme altmaniano". O mesmo modelo narrativo foi utilizado por ele posteriormente para, entre outros filmes, satirizar a burguesia americana ("Cerimônia de Casamento", 1978), metralhar a mediocrização de Hollywood ("O Jogador", 1992) e prantear o deserto existencial de Los Angeles ("Short Cuts", 1993).

Não lhe faltaram seguidores - e imitadores. Basta lembrar, entre os dignos de nota, "Pulp Fiction" (1994), de Quentin Tarantino; "Magnólia" (1999), de Paul Thomas Anderson; o vencedor do último Oscar, "Crash - No Limite" (2005), de Paul Haggis; e o recentíssimo "Bobby" (2006), de Emilio Estevez, a extraordinária reconstituição do último dia de vida do candidato presidencial Robert Kennedy (1925-1968) a partir de uma teia de personagens que se cruzam no hotel em que foi assassinado.

Robert Altman, porém, era talentoso demais para ser aprisionado por fórmulas. Rodou ainda tocantes homenagens a Van Gogh ("Vincent & Theo", 1990) e ao jazz ("Kansas City", 1996). Radiografou James Dean (duas vezes) e Richard Nixon ("Secret Honor", 1984). Traduziu para as telas universos tão díspares quanto os das tirinhas de Popeye (1980) e do mundo claustrofóbico de Sam Shepard ("Louco por Amor", 1985).

Tive o privilégio de entrevistá-lo por duas vezes em Cannes nos anos 1990. Altman tinha olhos cintilantes, fala mansa e pensamento rápido. Hollywood era seu alvo predileto, sempre atingido com sacadas de bom humor. O cinema vai ficar ainda menor sem novos filmes de Robert Altman.

PS - A morte de Altman alterou-me os planos quando sentava, aqui em Amsterdã, para escrever sobre a 19ª edição do Festival Internacional de Documentários, aberto na quinta-feira. Com mais de 250 filmes, entre os quais cinco brasileiros, a "Cannes do documentário" alimentará as próximas colunas. Cumpre destacar desde logo a estréia mundial, nesta sexta-feira, de "Santiago", de João Moreira Salles, dentro da mostra paralela "Mestres". A partir de um filme que rodou mas deixou inacabado, sobre o mordomo de sua família, o diretor de "Nélson Freire" realizou um dos mais complexos ensaios já realizados sobre a feitura de documentários. Aguarde.

Amir Labaki é diretor-fundador do É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários.
E-mail: labaki@etudoverdade.com.br

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

O estado físico altera a percepção visual e cinematográfica.

Não sei se o fato de ter dormido duas horas, acordado às sete e ido para a aula de direção audiovisual e ter assistido vários trechos de filme por três horas, fez-me estar cansada demais para não ter gostado de A Audiência vai começar. Enfim, o tema é muito bom, porém não gostei das imagens e da edição.

O documentário de Vicenzo Marra explora os bastidores da justiça italiana. Ele acompanha o dia-a-dia de trabalho de um juiz da corte de apelação de 70 anos, de sua assistente Elena de 45 anos e do mais importante advogado criminalista de Nápoles. Todos trabalham juntos para resolver o processo envolvendo a Camorra, a organização mafiosa que atua na cidade de Nápoles.

A polêmica surge quando vemos que a Justiça é motivo de chacota no mundo todo, seja no Brasil ou no primeiro mundo, a grande diferença é que os italianos estão mais bem educados e instruídos para agir. Há cenas memoráveis, quando o juiz está se vestindo para entrar na corte e diz que, pelo menos precisaria estar fisicamente bem, já que na prática a justiça não funciona. Ou quando sua assistente precisa de um telefone e pergunta para a secretária onde está e ela aponta para a parede que está lotada de telefones e nomes, como uma agenda telefônica.

Eu acho que o que causou estranheza foram as imagens e a construção cansativa, já que a maioria das entrevistas acompanhavam os personagens em seus carros rumo ao tribunal e era praticamente o mesmo enquadramento o tempo todo. Além disso, os planos estáticos que acompanhavam a gravação dos julgamentos ficou monótono.

Vincenzo Marra nasceu em Nápoles, Itália, em 1972. Enquanto estudava Direito na Rome’s Sapienza University, tinha interesse pela Argentina, especialmente pelos casos jurídicos envolvendo italianos desaparecidos naquele país. Ele também atuou como fotógrafo esportivo. No fim dos anos 1990, escreveu e dirigiu dois curtas-metragens, Una Rosa Prego e La Vestizione. Seu primeiro longa, Voltando para Casa (2001), integrou a seleção da 25ª Mostra e ganhou cinco prêmios no Festival de Veneza 2001. No mesmo ano, concluiu o documentário Estranei alla Massa. Voltou à ficção em 2004, com Vento di Terra, que conquistou o prêmio da imprensa estrangeira no Festival de Veneza e foi o melhor filme no Festival de Gijón. Concluiu o documentário 58% em 2005.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Dissecando a Piauí

Revista Piauí

Organizada pelo ex-documentarista João Moreira Salles, a primeira edição da revista Piauí chegou às bancas no início de outubro. Sua campanha a colocou como uma revista revolucionária, que não tem linha editorial e quer contar boas histórias com humor. Não haverão restrições temáticas e os colaboradores terão liberdade de expressão. Bom até aí, ótimo, eu achava que a Piauí seria muito boa e finalmente daria um rufo de ar para as diversas publicações que vemos nas bancas, das quais salvam-se apenas umas dezenas.


Sinceramente depois de ler os textos, eu particularmente não gostei. O melhor desta nova publicação são as ilustrações, porque o conteúdo em quase tudo que li, salvo algumas exceções é chato, ufanista e com informações que não condizem com a realidade da população brasileira.
O nome da revista é ótimo, pena que o que foi divulgado não tem a ver com a realidade.

Sinceramente, eu não achei a menor graça, não sei nem mesmo se era para ser engraçado, um texto em que o Coiote quer processar a ACME, por danos psicológicos e materiais.

Logo no início, esbarrei com a primeira leitura, totalmente decepcionante, algo sobre a primeira menina do mundo, não há nexo, ou minha mente infelizmente não acompanha o intelecto do escritor.

Quando Ivan Lessa fala mal do Rio de Janeiro e exalta a tão querida Londres, como não tive ainda a oportunidade de ir pras Europa, fico aqui, discordando de Lessa, sendo uma adoradora da cidade maravilhosa, que é eternizada por poetas e músicos do mundo todo. No Rio, há problemas claro, mas sua beleza e marco como ponto turístico são incontestáveis.

A Danuza Leão se salva pelo texto bem escrito, mas o que esse G.G. faz de tão importante que mereça o primeiro perfil escrito na primeira edição. Ah já sei, ele é importante porque faz vestidos que custam mais de R$ 5 mil para pessoas no mundo todo e por ter um apartamento enorme no Centro, mas dormir num hotel para não desarrumar seu lar doce lar. Não tiro o mérito das conquistas de Guilherme Guimarães, gostei de sua história de vida, mas achei o tom da matéria um atentado a mim reles mortal que reclamo do preço da revista de R$ 7.90 e que lê a Piauí em pé no busão lotado, que desce a Cardeal Arcoverde.

A matéria sobre os milhões de jovens que ganham pouco e trabalhando muito nas empresas de telemarketing também foi umas das coisas que salvou a revista e a história da jovem jornalista que vai para Nova York trabalhar num restaurante indiano é o terceiro acerto da publicação. Porém após esta última a decadência, compara-se com a queda de um precipício.

Hora de choro, pego um lenço, lágrimas escorrem quando leio a exaltação ao inteligente e humanista - já que trata bem seu motorista - o afastado Roberto Jefferson. Como todos roubam, ele não teve alternativa e roubou mais, pois é um coitado, né. Ele “oferece lições de retórica e política” para nós idiotas.

Bom, que cada um tire suas próprias conclusões, mas eu acho que o JMS deveria voltar para o documentário, pois é uma coisa que faz muito bem. Agora é esperar a segunda edição para ver se minha opinião é recorrente. Se bem que vou ter que gastar mais R$ 7,90, alguém não quer me presentear para continuar minha análise?