Protesto tira Kassab de festa no Jardins Estudantes fizeram novo ato contra o aumento da tarifa de ônibus
Juliano Machado
A festa de inauguração da badalada Rua Oscar Freire, nos Jardins, zona sul da capital, corria à perfeição. Com gente passeando nas novas calçadas, turistas fotografando as luxuosas vitrines, shows musicais. Até que cerca de 20 estudantes da Frente de Luta contra o Aumento da Tarifa apareceram, com faixas e cartazes, para protestar contra o reajuste da passagem de ônibus exatamente quando o prefeito Gilberto Kassab (PFL) falava a jornalistas, na esquina com a Rua Bela Cintra, sobre a nova cara da rua do luxo.Acuados, Kassab e sua comitiva deixaram o local às 13h10, 15 minutos após chegarem.
Sua assessoria de imprensa negou que ele tenha se retirado por causa do protesto e disse que havia um almoço marcado para logo em seguida. E por que ele não caminhou por todo o trecho revitalizado - da Melo Alves até a Padre João Manuel? Porque já havia feito isso na sexta-feira, informou a assessoria.Kassab havia acabado de assistir à apresentação do grupo infantil de percussão Arrasta-Lata quando chegaram os 'penetras', com apitos, cartazes e gritos do tipo 'Dança, Kassab, dança até o chão, aqui é o povo unido contra o aumento do busão'. Surpreso e sem saber bem o que fazer, o prefeito se limitou a dizer que 'manifestações são democráticas'. Após sua saída, os estudantes bloquearam por alguns minutos o trânsito na altura da Rua da Consolação.
Os 20 minutos de protesto foram suficientes para causar alvoroço no quarteirão entre a Bela Cintra e a Consolação. Quando viu o movimento, o administrador de empresas Marcos Mansur correu para ajudar a esposa a tirar da rua os carrinhos onde estavam seus dois filhos mais novos, de 2 e 4 anos. 'Nessa hora me assustei um pouco. A reivindicação é válida, mas não nessas circunstâncias.' O empresário Sérgio Noschang e sua mulher, a médica Rosa Garcia, assistiram a tudo de uma mesa da confeitaria Cristallo. 'Fiquei surpresa, mas até ri um pouco porque um deles estava vestido de palhaço', disse Rosa.Quem não se estendeu no assunto foi o governador eleito José Serra (PSDB), que visitou a Oscar Freire uma hora depois da manifestação. Ao ser indagado sobre a presença dos estudantes, Serra disse que a idéia deles era 'chamar a atenção.' '(O protesto) foi feito para isso. Para que vocês perguntem e para repercutir', ressaltou.Com os olhos marejados, a presidente da Associação dos Lojistas da Oscar Freire, Rosângela Lyra, considerou o protesto 'fora de hora'. 'A campanha eleitoral já começou', disse, sugerindo motivação política por trás do episódio.
Os estudantes admitiram que aproveitaram a presença de Kassab numa rua comercial de luxo para protestar. 'Muita gente me parou perguntando se a tarifa tinha aumentado. Essas pessoas precisam saber o que acontece na cidade', disse a estudante Nina, de 19 anos, que não quis dar o sobrenome.Os manifestantes questionaram o fato de a Prefeitura ter destinado R$ 4 milhões para as obras na Oscar Freire. 'Enquanto isso, as ruas da periferia são de terra', criticou Nina. Kassab justificou que 'a Oscar Freire dá milhões de reais em função dos impostos arrecadados'.
Outro fator que incentivou o protesto foi um informe da associação de lojistas sobre a entrega das obras, onde se lia: 'No lugar dos operários, homens e mulheres bem vestidos e com a aparência favorecida em todos os aspectos.' A Assessoria de Imprensa da associação disse que o texto não tinha caráter depreciativo.A reforma da Oscar Freire, iniciada em outubro de 2005, custou R$ 7,5 milhões - o restante foi pago pela American Express e por lojistas.
Além de novas calçadas, a rua teve parte da fiação aterrada. Ganhou ainda 52 postes com luminárias sem fio e 78 ipês. Os quarteirões entre as Ruas Melo Alves e da Consolação e entre a Augusta e a Padre João Manuel não estão prontos. O calçamento está desnivelado e com entulho. Kassab disse que tudo será concluído até o fim da semana. A revitalização deve ser estendida até a Alameda Casa Branca.