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quarta-feira, 28 de junho de 2006

Sessão Revolucionária II

Diários de Motocicleta

Uma viagem pela América do Sul, de Buenos Aires até o norte da Venezuela, percorrer a distância de oito mil quilômetros, passar quatro meses na estrada, utilizar uma moto velha conhecida como La Poderosa (A Poderosa) como meio de transporte, os viajantes: um futuro médico de 23 anos que está no último semestre de medicina e um bioquímico que beira os 30 anos.

Em Diários de Motocicleta Walter Salles consegue expor as belezas e injustiças da América Latina e ainda suscitar alguns sentimentos que levaram Ernesto Guevara de La Serna, o Che ou El Fuser, a se tornar um dos ícones da Revolução Cubana de 1959.



A viagem de Che Guevara e seu amigo Alberto Granado passa de uma aventura, para o relato sensível da pobreza que agonizava e até hoje transparece no sul do continente americano.

Quando Che conhece um casal de comunistas chilenos que luta contra o frio e a fome, no deserto de Atacama, e que pretendem conseguir emprego numa mina para sobreviverem, o que se vê é o humano Guevara que começa a sofrer com a pobreza e as mazelas do capitalismo.

“Constituímos uma raça mestiça do México ao Estreito de Magalhães”.

Essa é uma viagem de descobertas, de busca de identidade e o início da luta contra a desigualdade que Che travou contra o mundo capitalista no final da década de 50. Mas não é apenas de dor que se faz história, há muitos trechos engraçados que mostram a cumplicidade e a amizade de Ernesto e Granado, como as dezenas de quedas da La Poderosa ou a cantada nas “belas” chilenas para assim conseguirem comida e um local para dormirem.

“Aconteceu algo. Algo que tenho que pensar por muito tempo”.

Sensibilidade à flor da pele é a expressão perfeita para falar do trabalho realizado por Che a Alberto na colônia de leprosos localizada na Amazônia Peruana. Transpondo às regras cristãs impostas pelas freiras do local, eles são os primeiros a tocarem nos pacientes sem luvas, escutam-nos com atenção e os fazem sentir novamente como seres humanos.

A mudança do jovem médico é percebida no decorrer da obra e na vivência de novas experiências. A divisão do rio que coloca os leprosos de um lado e os funcionários e médicos do outro, desperta em Che a angústia da divisão social e a vontade de unir os povos e principalmente, acabar com a desigualdade.

Clavo mi remo en el agua

Llevo tu remo en el mío

Creo que he visto una luz al otro lado del rio

Finco o meu remo na água

Levo o teu remo no meu

Acredito ter visto uma luz ao outro lado do rio

Os planos gerais utilizados por Walter Salles expõem a bela natureza do caminho percorrido e alguns closes nos aproximam da sensibilidade de Che, quando ele conversa com a senhora enferma ou a jovem que tem lepra e precisa operar o braço. Há diversos momentos nobres, que são enriquecidos com trechos dos diários de Ernesto Guevara.

No DVD vale a pena assistir os extras de cenas que foram editadas e não entraram na obra final.

Para quem quer escutar a trilha sonora acesse o site da
rádio uol. A música Al Outro Lado Del Rio do uruguaio Jorge Drexler foi a vencedora do Oscar de 2005.

No site do
filme dá para conferir o trailer, notas do diretor e do roteirista, elenco, entrevista com Walter Salles e Alberto Granado.

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