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sexta-feira, 23 de junho de 2006

Judeus X judeus: um acontecimento esquecido pelo Ocidente

Cinco Dias

Assisti este documentário no Festival É Tudo Verdade, criado e idealizado pelo crítico Amir Labaki.

Soldados e policiais judeus avançam com enormes caminhões pelas ruas de um assentamento localizado na Faixa de Gaza, onde pessoas resistem à invasão com seus próprios corpos e pronunciam aos berros: “Nazistas”.
Soldados, policiais, assentamento e resistência. Essas quatro palavras fariam qualquer um pensar que a cena descrita retrata um episódio do conflito árabe-israelense. Porém, o que o documentário 5 Dias do diretor israelense Yoav Shamir retrata são os cinco dias finais do desmantelamento dos assentamentos judaicos da Faixa de Gaza em agosto de 2005.

Com cinco equipes de filmagem, Yoav consegue registrar militares israelenses em uma reunião sobre as estratégias para implementar a desocupação, ao mesmo tempo em que questionam se o ato pode ser ou não considerado democrático. “Seja no que ouvimos um narrador dizer sobre o tema do filme, seja no que escutamos os atores sociais diretamente nas entrevistas, seja no que escutamos os atores sociais dizerem entre si conforme a câmera observa, os documentários apóiam-se muito na palavra dita. O discurso dá realidade a nosso sentimento do mundo. Um acontecimento recontado torna-se história resgatada”[1].

Cena do filme Checkpoint de Yoav Shamir

A câmera que acompanha um colono que fará de tudo para unir forças e companheiros para impedir e atrasar o avanço das tropas, mostra um povo determinado e que acredita na força de Deus para impedir que eles percam seus lares.

Em um assentamento próximo a uma praia onde seus moradores preferem atitudes pacíficas para interromperem a ação, os colonos tocam violão e convidam soldados para entrarem em suas casas e rezarem. A atitude provoca comentários do alto escalão que ironicamente refere-se a seus conterrâneos como os judeus mais estranhos unidos em uma mesma região.

Cinco Dias é fiel em sua proposta ao acompanhar a luta dos colonos para preservar seus lares e também ao conceito do Cinema Direto de observação de um fato sem intervenção.
O filme também mostra a força militar israelense lutando contra seu próprio povo e ao mesmo tempo caçoando da situação. A influência externa é demonstrada pelas músicas dos ingleses de Liverpool, The Beatles, que tocam nos carros ou acampamentos dos militares.

Yoav mostra um lado do conflito entre árabes e israelenses como no filme de ficção Paradise Now, dirigido por Hany Abu-Assad, que mostra os últimos dias na vida de jovens palestinos que prendem explosivos em seus corpos para assim, tornarem-se mártires que almejam uma vida melhor para seu povo e têm na morte a esperança de atingir o ideal coletivo, e chegarem ao paraíso, mas o que o diretor quer dizer com o título do filme é a esperança de se chegar ao “Paraíso Agora”, ou seja, quer uma resolução das autoridades agora e não a extensão do conflito como se vê.
Em 5 Dias, uma espécie de Intifada judaica, mostra que a resistência dos jovens é mais amarga por saberem que seus lares servirão de moradia aos “inimigos” palestinos, este ódio continua e o ciclo da guerra e mortes é interminável.
Quando o comandante da operação se nega a explicar o por quê de não utilizar a mesma atitude branda da desocupação dos judeus para lidar com os palestinos, a câmera se apaga, como ainda muitos jovens mártires ou soldados de Israel terão suas vidas desligadas por este conflito.

[1] Nichols, Bill. Introdução ao Documentário; tradução: Mônica Saddy Martins. – Campinas, SP: Papirus, 2005.

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