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sexta-feira, 30 de junho de 2006

Ninguém quer escutar!

Show dos Rolling Stones

Mais de 1,2 milhão de pessoas, o que se via em Copacabana era um mar de cabeças amontoadas, parecia que a multidão não tinha fim.

A população não era só de pessoas, os barcos dominavam as margens da praia, até um navio todo iluminado marcou presença.

Qual era o medo? Será que terei segurança num show gratuito dos Rolling Stones na praia de Copacabana?
Minhas expectativas foram ultrapassadas. Cheguei ao Rio às 8 da manhã, assisti ao espetáculo em um lugar consideravelmente bom, conseguia ver miniaturas de Jagger, Wood, Richards e Watts e com o apoio da grade na minha frente, a visão ficava muito melhor.

Fim do show, após o arrepiante coro da multidão, só quem estava lá no meio sentia a vibração de milhões se esvair pelo céu ao som de Satisfaction.

Passei o show todo na grade da saída de emergência que fora planejada para facilitar a movimentação dos policiais e bombeiros e os atendimentos de emergência.

Conversei com muitos PMs antes, durante e após o show, mas as considerações do policial Rudney (mudei o nome, porque pensei que poderia prejudicá-lo) me marcaram muito e agora com essa tomada dos morros cariocas pelos militares em busca das armas roubadas, algumas coisas que escutei ficam mais claras em minha cabeça e me fazem pensar que estamos de olhos fechados para um problema diante de nós.
Esse é um assunto atual, não só para o Rio de Janeiro, mas também, para a violência que paira em São Paulo com os ataques do PCC.

PM1: Vocês são do Rio?

Flávia: Olha para nosso bronzeado branco, somos de São Paulo.

PM1: Vocês são corajosas de terem vindo.

Flávia: Mas foi tranqüilo. Vocês se deram bem e assistiram todo o show numa boa sem serem esmagados.

Rudney: Nós? Nem dá para assistir temos que ficar cuidando da proteção de vocês e trocamos toda hora de posto. A gente está aqui protegendo, arriscando nossas vidas, ganhando pouco. Quando a Secretaria de Segurança era responsável pela PM, as coisas funcionavam melhores. Agora somos subordinados ao Estado.

MT: Então, a PM está mal, porque o governo e a Prefeitura de vocês, ninguém merece.

R: As pessoas gostam muito de nos criticar, mas não sabem que arriscamos nossas vidas. Você não sabe o que é estar numa troca de tiros no morro e uma bala perdida passar por cima de sua cabeça.

MT: Você sobe muitos morros?

R: Um monte. Hoje estamos aqui, mas amanhã é lá em cima. E não reconhecem nosso trabalho. Nosso inimigo é a imprensa e a Globo.

MT: Por quê?

R: Eles só sabem estampar nas páginas dos jornais as manchetes: PMs corruptos! Só criticam. Por causa de 20% de policiais corruptos, os outros 80% pagam o preço.

MT: Eu vi o documentário Notícias de uma guerra particular....

Outro PM se interpõe à conversa e dispara rapidamente:

PM2: Você viu aquele filme? Muito sensacionalista. Mas é verdade sim, vivemos numa guerra particular.

O veemente Rudney também atropela o colega.

R: Uma guerra civil. O Rio vive uma guerra civil, só que ninguém fala disso. Imagina se os estrangeiros vão querer vir para uma cidade que vive uma guerra. Eles não divulgam para não desestabilizar o turismo.

MT: Também li O Abusado. Vocês vão mesmo invadindo o morro?

R: Se a sociedade reconhecesse o trabalho policial, as coisas seriam muito melhores, mas nos culpam por tudo. No morro tem gente muito trabalhadora e a voz do chefe comunitário é muito forte. Não adianta subir o morro e combater o tráfico, se o Estado não faz nada, não dá educação, lazer e saúde.

MT: Preferem culpar vocês, porque na hierarquia a PM estaria abaixo do prefeito e do governador que devem ter ações e planos para melhorar as condições da população nos morros.

R: Eu vivo para três coisas: Deus, minha família e meu trabalho. E a sociedade deveria nos apoiar mais. Eu me arrisco, sei que minha cabeça vale R$ 15 mil e se me encontrarem vivo, vão me amarrar, me torturar, me bater, devem me cortar, colocar em um pneu e me queimar. Mas, eu não vou desistir, vou continuar trabalhando para tentar fazer a diferença...Isso ninguém fala e divulga, mas toda a sociedade deveria saber.

Enquanto ele me falava tudo isso, Rudney mal respirava, contava tudo com atenção, revoltava-se com seus companheiros corruptos e esbanjava orgulho ao falar de sua profissão.

Pronto, está aí enquanto a multidão enfurecida cantava “Polícia é pra quem precisa de polícia”. Eu pensava que precisava mesmo deles e que tinha escolhido um ótimo um lugar para ver os Stones.

Qual a solução? Para nós que vemos tudo de longe ou pela tela da TV, criticar, criticar o policial, o tráfico, mas e se perguntarmos para quem mora no morro. Qual é a melhor solução no ponto de vista deles? Alguém já os questionou?

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